domingo, 21 de julho de 2013

GRAND CANYON O GRANDE DESCONHECIDO


GRAND CANYON O GRANDE DESCONHECIDO


 
O grande desconhecido salta aos olhos

 

da flor e ante folha

 

maior estrangeiro de todas as partes

maior cinza que a fogueira de gelo expande

 

estranho pináculo tateia

os retalhos do plano

 

e na verdura corada da montanha

 

num frio fino

arboresce

sem familiaridade

a nervura

 

qual larvas de aranha

das bananas nos engradados

 

que muda e muda

 

o alinhavo do atalho das tarântulas

lanho urticante

alinha em dégradé

 

então floresce

 

pérgola traçada onde núvens

são transportadas em grades

 

névoas e névoas

 

para que aurora apague as sombras

da arquitetura da noite
 
 
(Célia Abila)

 

 

 

 

 

sábado, 8 de setembro de 2012












JÓIA NA FLOR-DE- LÓTUS



A pedra não tem medo
do sol que aquece e aflora,
águas dos rios na aurora
dos  agrestes  da Grécia .

A pedra não tem medo
da estrela azul que aponta,
que a noite é de caça aos
centauros em Tessália;
de Lápitas em lápides.

A pedra não tem medo
da lua  cheia que ascende ,
laços de ossos que prendem
roliço sarilho oco;
eco e pingo que acorda
as avencas do poço.


A pedra não tem medo
do gigante cometa
de luz que tremeluz
os astros da noite;
chispa o açude em açoites.
talagarça de tranças;
raiz, rizoma e alcaçuz.

A pedra “no fundo”
tem medo profundo
das flores- de -lótus
de oloroso lodo;
escorço de branco,
cálice de sépalas,
pétalas ; que abarca
essência e  segredo;
da pedra que afunda.


quinta-feira, 5 de abril de 2012

ESFERA





além da árvore
não há estrada sobre a montanha
nem barcos e pontes sobre água
cada coisa gerada
para a própria
esfera
múltiplos arbustos
crescem
levados pela mão
tranquila
no gozo do homem
primitivo
aves
feras...

( Célia Abila)

Charles Pierre Baudelaire







Charles  Pierre Baudelaire
   (1821 / 1867 )
"Perfume Exótico"                                                  Tradução de Ivan Junqueira
De olhos fechados, quando, alta noite, no outono,
respiro o cheiro bom dos teus seios fogosos,
vejo entreabrir-se além de cenários deleitosos
cintilando o ardor de um sol morno de sono:

Uma ilha preguiçosa e molenga e sem dono
em que há árvores ideais e frutos saborosos;
Homens de corpos nus, finos e vigorosos,
mulheres cujo olhar tem franqueza e abandono.

Guiado por teu perfume às paragens mais belas
vejo um porto arquejar de mastros e velas
ainda tontos talvez da vaga alta que ondula

enquanto um verde aroma dos tamarineiros,
que passeia pelo ar que aspiro com gula,
se mistura em minha alma à voz dos marinheiros.

ENTARDECER EM ARUBA

terça-feira, 27 de março de 2012

ALBERTO CAEIRO




A Manhã Raia A manhã raia. Não: a manhã não raia.
A manhã é uma coisa abstracta, está, não é uma coisa.
Começamos a ver o sol, a esta hora, aqui.
Se o sol matutino dando nas árvores é belo,
É tão belo se chamarmos à manhã «Começarmos a ver o sol»
Como o é se lhe chamarmos a manhã,
Por isso se não há vantagem em por nomes errados às coisas,
Devemos nunca lhes por nomes alguns.

Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"

quinta-feira, 22 de março de 2012

VESTE DE NUVEM EM FRAGMENTOS


Antes de abrir a boca mire-se num
plantel  fenomênico de esculturas:
corpo de seda azul em lençóis de veludo
outono  de enganos  num breve caleidoscópio
folhas soltas  em viés de vento fecundo
turbilhão  de gotas nuas aglutinadas
na garupa de bolhas ciganas  no pináculo
da montanha esmeralda  fosforescente
e siga as vestes estivais no caminho de névoa lilás
qual encontro de pergaminhos  camuflados
em corredor noturno que  arrepiam membros
andarilhos  em  simulacro de imagens
vultos  em arquivo celeste simultâneos
pés de papiro em círculo

provocam  encontro  de rastro sincrônico
relâmpagos talentosos ardem em toda eternidade
eco e fala :
_ sente o espírito imortal do amor
 chuva com a cor imensa cuspindo
desejo dentro do fogo  e  ar...
vestes  descartáveis encobrem coisas mortas
enquanto um corpo de homem arde num dorso
lábios de azul  lazuli e olhos de algodão
regurgitam pedregulhos beijados por flores de água
em cascata de braços que dão forma
à proteção ancestral que as mãos cultivam.

(Célia Abila)